sábado, 3 de setembro de 2016

Clã Raio - Capítulo II: Visitando meu irmão






Terminado o treino fui fazer uma caminhada para aliviar a mente. Andei bastante pelos arredores da vila até chegar na casa do meu irmão mais velho. Apesar de não ter muita afinidade com ele, Litto era um sábio para momentos de dificuldades.


Bati na porta de Litto, aguardei, porém ninguém me atendeu, esperei um pouco, depois fui para o jardim, meu irmão adorava ficar treinando magia por lá. Em meio aos corredores de tulipas avistei-o sentado no chão lendo um livro.

- Olá, Litto! 


- Oi, Ben, quanto tempo. Imagino que para você ter vindo até aqui é por um motivo importante. 

Meu irmão levantou, cumprimentou-me brevemente e sentou-se novamente, focando novamente em seu livro. Pelo visto, depois de tanto tempo, ele continuava sendo o mesmo arrogante de sempre. 


– Meu filho, o Ryo, ele... Você está ouvindo? 

– Sim, o que tem o Ryo? - Litto perguntou sem tirar o olho do livro. 


– Ele, ele é… - Era difícil para mim dizer aquelas palavras que estavam na minha mente – Ryo não luta. 


Uma coisa era eu saber que meu filho era fraco e não lutava, outra muito diferente era expor isso, mesmo que para meu irmão. 


– Humm, entendo. Parece que o pequeno Ryo puxou o tio, será?! - Disse, aos risos. 


– É sério, Litto. Ele está sendo uma vergonha para mim e para o clã... 


– Da mesma forma que eu fui para o Pai? - Litto perguntou em tom sério, focando agora os olhos em mim.


Fiquei sem resposta. Litto voltou a atenção novamente à leitura. Após um tempo, notei que entramos num daqueles silêncios que parecem não ter fim. Litto quebrou:  


– Se você quiser posso ensinar meus truques para seu filho. 


–  Magia? Não sei se é uma boa ideia. 


Nós pareciamos andar em círculos. Por mais que eu seguisse as regras do clã à risca, que era treinar corpo e alma apenas, estava disposto a deixar meu filho treinar outras atividades com seu tio. 


Após debatermos muito o assunto, concordei em deixar meu filho aos cuidados de Litto. Era uma decisão difícil que eu havia tomado, porém era necessário. Lidar com magia é uma arte que corrompe os mais ímpios dos homens, caso não haja prudência,  a perdição é certa. Mas já estava decidido, meu primogênito por não saber lutar iria defender o clã usando a magia, assim como meu irmão faz. 


Ryo recebera a notícia de que viveria com seu tio manipulando os elementos da natureza de forma bem serena. Sua calma me assustava, talvez ele tivesse nascido destinado a isso, da mesma forma que as abelhas nascem destinadas a colher o pólen das flores. 


– Adeus maninho. Vou sentir saudades. - Disse Ane, se despedindo do irmão com um abraço apertado. 


– Adeus. Mas vá sempre me visitar quando possível. 


– Vamos logo, Ryo. Seu tio o aguarda ansiosamente. 


– Sim, vamos Pai. 


Ryu deu o último abraço na irmã e em seguida me puxou em direção a casa de meu irmão. Caminhávamos lentamente. Eu e meu filho olhávamos para trás, avistávamos a pequena Ane sentada na grama molhada, da chuva do dia anterior. Passados alguns metros de casa, minha amada filha não podia ser mais vista. Ryo, após sua última olhada para trás me surpreende: 


– Eu era fraco. Aliás, ainda sou, mas quando eu voltar para casa vou  mostrar quem é o real fraco aqui.  


Engoli em seco. Meu filho usou um tom que eu jamais vira, apesar de conhecê-lo muito bem, em questão de segundos me vi diante de um desconhecido. Tentei amenizar o clima com uma piadinha, de forma inútil: 


– Isso foi uma ameaça, filho? 


– Não!  - Ryo olhou para mim com um ódio bastante visível - Foi apenas um aviso! 


Enunciado suas palavras finais, meu filho partiu de uma forma bem violenta para cima de mim. Todas as técnicas que tentei ensiná-lo por anos parecem finalmente ter assumido discernimento em sua mente. Porém era pouco. Facilmente o imobilizei pelo pescoço, fazendo-o parar. Ryo parecia tremer, quando soltei-o,  lágrimas caiam de seu rosto.  

– Um dia eu volto para terminar o serviço - disse em meio ao choro.

Assenti com ressentimento. Ryo era meu filho, porém eu nunca fui um bom pai. Fizera o meu melhor para criar meus filhos sozinhos, no entanto não foi suficiente. Estava claro nos olhos de meu filho o mal.



Nenhum comentário:

Postar um comentário